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sexta-feira, 20 de julho de 2012
Fingir que está apaixonado pode produzir paixâo verdadeira
Fingir que está apaixonado pode produzir paixão verdadeira
Recentemente, Richard Wiseman, professor da Universidade de Hertfordshire, Inglaterra, realizou uma pesquisa que teve a maior repercussão na mídia. Esse professor verificou que fingir estar apaixonado aumenta as chances de aparecer o interesse romântico.
Wiseman pediu para cem pessoas participarem de encontros relâmpagos (“speed dates”). Uma parte deste grupo de pessoas foi instruída para fingir que estava apaixonada pelos parceiros do encontro. Elas, por exemplo, deviam olhar intensamente nos olhos do parceiro, segurar suas mãos, compartilhar segredos e até lhe oferecer pequenos presentes. A outra parte deste grupo foi instruída para se portar da forma usual para este tipo de encontro (pelo que mostram os filmes que aparecem em noticiários de TV, essas pessoas geralmente tentam se mostrar simpáticas, engraçadas, atenciosas, interessadas e a tentar impressionar os parceiros durante esses encontros).
A grande novidade deste estudo é aqueles que fingiram revelaram que se sentiram mais próximos dos parceiros (superioridade de um ponto em relação ao grupo que não fingiu em uma escala que ia até sete) e maior interesse em encontrar com os parceiros (44% de interesse no grupo que fingiu e 20% no grupo que não fingiu).
Este estudo de Wiseman indica que o fingimento pode aumentar as chances de surgir um interesse verdadeiro. Esse estudo lembra aquele ditado antigo que os adultos diziam para as crianças que estavam brincando de brigar: “Brincadeira de mão não dá certo! Acaba virando de verdade”, ou, como dizia o grande psicólogo William James: “Se você deseja desenvolver uma qualidade, haja como se você já a tivesse. Tente a técnica “como se”. (“If you want a quality, act as if you already had it. Try the “as if” technique”).
Usos da técnica “como se”
Tenho feito bastante uso da técnica do “como se”. Por exemplo, estou trabalhando em um tipo de terapia na qual o paciente desenvolve e pratica aquele estilo pessoal que ele gostaria ter e a forma como gostaria de se vestir, sentir, pensar e agir. Estou convidando um diretor de teatro para ajudar os pacientes a desenvolver seus próprios personagens e a desempenhá-los com convicção. Eu estou desenvolvendo um procedimento para “colar” personagem em cada um. Essa "colagem" é necessária, pois, ao contrário do teatro, a pessoa quer ser daquele jeito e não apenas representar. Também estou trabalhando em uma espécie de “atalho para a paixão”, que descobri meio acidentalmente. Em outra ocasião falo da minha maneira de fazer terapia. Aqui vou falar um pouco sobre esse atalho porque ele lembra a pesquisa do Wiseman apresentada acima.
Atalho para o estado amoroso?
Eu estou desenvolvendo uma espécie de atalho para um tipo de estado alterado que parece similar ao da paixão. Uso o nome “atalho” porque este estado pode ser instalado quase que instantaneamente entre duas pessoas, quando uma delas, o “instalador”, sabe bem como proceder, a outra não oferece grandes resistências e ambas têm atributos que as tornam mutuamente compatíveis para um relacionamento amoroso.
O atalho para este estado, desde o inicio, não usa o fingimento. A pessoa que conhece esse atalho aprende a entrar rapidamente no “estado”. Uma vez neste estado, os seus comportamentos são apresentados espontaneamente para a outra. Quando essa segunda pessoa não oferece muita resistência e logo corresponde, ela também entra rapidamente no mesmo estado. Esse atalho é mais ou menos o seguinte:
Ficar olhando para os olhos da outra pessoa que, logo, corresponda ao olhar; tornar-se inteiramente concentrado na pessoa; esvaziar-se de objetivos e pensamentos, ou seja, ficar totalmente disponível para esta segunda pessoa (Nada fácil, não é? rs). Agir dessa forma pode produzir um estado de consciência alterado similar ao de uma paixão intensa: o ambiente deixa de ser notado; acontece a perda da percepção do tempo; os assuntos da conversa ficam em segundo plano; os pensamentos se aquietam; aparecer uma disponibilidade completa para perceber a outra pessoa, momento a momento; aparece uma sensação de fascínio pela pessoa; fica difícil parar de olhar para os seus olhos (fenômeno muito bem captado pela música “Can´t take may eyes off you” by Damien Rice, apresentada no filme “Closer”2); a outra pessoa passa a ser vista como pessoa única e, se ela tem atributos exigidos em uma parceira amorosa, surge atração romântica por ela (“I can´t take my mind off you”, como diz essa mesma música). Fica difícil sair deste estado: ele adquire vida própria Creio que experimentar este estado com uma pessoa produz uma mudança duradoura nos sentimentos mútuos daí para frente.
Desviando os olhos
Geralmente não paramos para prestar toda a atenção nos nossos interlocutores. Também não é permitido olhar direta e demoradamente para os seus olhos e concentrar toda a atenção em tudo que eles expressam. É proibido prestar tanto atenção, atenção tão continua e ficar tão disponível só para perceber o outro.
Quando uma pessoa olha assim e a outra pessoa corresponde, ambas entram em um estado alterado. A natureza deste estado parece ser parcialmente determinada pelo potencial que existe entre os observadores totais. Se for ambas são compatíveis para fins amorosos, é provável que este estado se instale em seus corações. O encantamento surgirá.
Duas pessoas que usaram esse atalho entre si relataram que, embora ambas tenham ficado em um estado alterado enquanto durou essa forma de olhar e disponibilizar-se psicologicamente, só uma delas experimentou uma paixonite que durou vários dias. A outra pessoa, que achava o parceiro menos qualificado para fins amorosos, embora tenha experimentado o estado alterado, ela relatou que não havia experimentado algo parecido com uma paixonite.
Este fenômeno ainda é bastante desconhecido. Ele deve ser melhor estudado para verificar se realmente ocorre, e em que condições ocorre, quão similar ao amor que surge por outras vias ele é.
Hipóteses explicativas
Algumas das hipóteses para explicar esse fenômeno, caso seja bem comprovado que ele acontece, são as seguintes:
1- Os comportamentos produzem os sentimentos. O comportamento aciona mecanismos cerebrais que disparam os sentimentos e vice-versa. Sorrir, por exemplo, provoca aferências da musculatura da face que são interpretadas pelo cérebro como alegria.
2- Teoria da atribuição. A percepção e a interpretação são baseadas na leitura dos nos comportamentos. Por exemplo: “Se estou me portando de forma amorosa, é porque estou apaixonado”. “Se estou pensando nela o dia todo é porque estou apaixonado”.
4- Esforçar-se para pensar e agir como um apaixonado faz com que a pessoa considere o parceiro sob outro prisma. Um estudo verificou que as pessoas que escreverem uma redação sob o ponto de vista de um adversário político pode passar a aceitar melhor suas ideias. Na terapia, sempre pessoa para as pessoas representarem os papeis de outras pessoas com as quais elas estão tendo problemas. Esta representação faz com que elas tentem ver o que está acontecendo sob a ótica do adversário ou desafeto.
Fingir que está apaixonado leva quem finge a examinar a si mesmo e ao parceiro sob esta perspectiva. Isto gera uma oportunidade que poderia não ocorrer sem o fingimento. E esta situação pode ser agradável e apaixonante, principalmente quando o outro responde de forma amorosa, fingida ou não.
5- Os comportamentos amorosos do parceiro é que induzem o estado amoroso no fingidor. Ambos experimentam algo amoroso provocado diretamente pelo próprio comportamento, mas sim pelo comportamento do outro.
6- A linguagem não verbal tem um efeito em si, independentemente daquilo que foi comunicado ter sido produzido espontaneamente ou deliberadamente. Exemplos:(1) alguns estudos mostraram que a simulação de expressões faciais de emoções pode fazer com que o simulador passe a senti-las; (2) ser designado através de sorteio para sentar-se na cabeceira de uma mesa aumenta a chance de falar mais e liderar a reunião em relação aqueles que foram designados por sorteio para sentar nas outras posições da mesa; (3) ser obrigado a escrever um texto defendendo um ponto de vista antipático aumenta as chances de vir a simpatizar-se com ele; ter que conviver com sequestradores pode despertar a simpatia por eles (Síndrome de Estocolmo).
Vale a pena tentar. Comporte-se como um apaixonado e verifique se isto aumenta a sua paixão.
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