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sábado, 23 de fevereiro de 2013
O efeito Coolige: o papel da novidade no relacionamento amoroso
O Efeito Coolige: o papel da novidade no relacionamento amoroso
As seguintes questões vão ajudar você a avaliar se o seu relacionamento está perdendo perigosamente o “efeito novidade”:
1- O seu relacionamento caiu na rotina?
2- Você e o seu parceiro não sentem mais prazer e estimulação com a presença do outro?
3- O romance está desaparecendo do seu relacionamento?
4- O sexo está se tornado raro, burocrático e motivado apenas pelas necessidades fisiológicas e não pela atração pelo parceiro?
5- Aquelas longas conversas que aconteciam no início do seu relacionamento desapareceram e, agora, vocês só têm conversas práticas e telegráficas?
Quanto mais você concordou com cada uma dessas afirmações, mais “esvaziado” está o seu relacionamento. Um dos possíveis motivos desse esvaziamento é a diminuição da novidade que cada um representava para o outro.
Passamos boa parte de nossas vidas procurando novidades e evitando a repetição.
A busca por novidades, provavelmente, foi um dos grandes motores do progresso humano: a curiosidade incansável, a procura por novas maneiras de fazer as coisas, a curiosidade para ver o que existe atrás da próxima montanha, promoveram o progresso material da humanidade.
No entanto, tal como acontece vários mecanismos psicológicos que são úteis quando bem calibrados, a busca por novidades pode se tornar danosa quando desregulada. Algumas pessoas se tornam viciadas em novidades: compram mais roupas do que conseguirão usar, visitam mil cidades sem conhecer suficientemente nenhuma delas, casam-se várias vezes sem nunca se envolverem suficientemente com os maridos, trocam de amigos simplesmente para variar os relacionamentos, etc.
Vamos examinar aqui alguns efeitos da novidade na área amorosa.
Efeito Coolidge
Calvin Coolidge foi o 30º presidente americano. Circula por ai a seguinte anedota à respeito desse presidente, cuja veracidade nunca foi confirmada, mas ilustra bem a procura por novidade na área sexual:
Um dia esse presidente e sua esposa estavam visitando uma granja, na companhia de uma comitiva. Durante a visita, o presidente ia à frente, acompanhado por um grupo, e a sua esposa, logo atrás, acompanhada por outro grupo. Em certo momento da visita, a sua esposa viu um galo transando incansavelmente. Após observar por alguns momentos o desempenho do galo, ela perguntou para alguém que estava próximo:
- Quantas vezes este galo transa por dia?
- Cerca de 60 vezes.
- Diga isso para o meu marido, lá na frente.
Essa pessoa incumbida do recado foi até o Presidente e disse: “Olha, Presidente, a energia desse galo”. O presidente observou por um tempo a atividade incansável da imponente ave, e, com um ar admirado, perguntou:
- Quantas vezes ele transa por dia?
- Cerca de 60.
- Com a mesma galinha?
- Não. Uma vez com cada uma.
- Diga isso para a minha mulher, lá atrás!
Este efeito da renovação da motivação sexual que é provocado pela presença de uma nova parceira foi denominado, em “homenagem” a este presidente, de “Efeito Coolidge”. Este efeito também é conhecido como “efeito novidade”, “Efeito carne fresca” ou, ainda, pela expressão sugestiva “A grama do vizinho é mais verde”.
O efeito Coolidge foi estudado em várias espécies de aves e mamíferos. Um desses estudos verificou que um rato que já havia transado várias vezes com uma rata e tinha cessado essa atividade há um bom tempo, aparentando saciedade, começou a transar com uma nova rata, assim que ela foi colocada na sua gaiola, com energia renovada.
Os pesquisadores suspeitaram que, talvez, o rato tivesse voltado a transar com a nova rata porque esta não havia transado há um bom tempo e, por isso, o houvesse provocado sexualmente através de seus comportamentos. Essa provocação já não estava acontecendo com a primeira rata, porque esta, tal como o rato, já estava sexualmente saciada. Para testar essa hipótese, esses pesquisadores repetiram a pesquisa com outros ratos, com a diferença que, dessa vez, a segunda rata que era colocada na gaiola do rato também já havia transado com outro rato e, portanto, estava tão saciada quanto a primeira parceira deste. Através desse procedimento, os pesquisadores verificaram que o rato voltava a transar com a segunda rata recém-chegada, afastando, dessa forma, a hipótese da provocação como a principal responsável pela renovação da motivação sexual do rato e fortalecendo a hipótese do efeito Coolidge – ela atraia porque era novidade!
Esse efeito também foi verificado para as ratas, mas em uma intensidade um pouco menor do que para os ratos. (Parece que as fêmeas de diversas espécies têm mais interesse na qualidade do que na quantidade dos parceiros. Um dos motivos para isso é que elas não conseguem ter tantos filhotes quanto eles).
O efeito novidade também foi constatado em várias outras espécies de aves, mamíferos, insetos e na nossa espécie. Entre nós, ele é, provavelmente, um dos maiores motivadores do polissexo, da traição, das “ficadas” e do estilo de amor Ludos (descrito em um artigo anterior desse blog). Uma exacerbação do efeito Coolidge é a compulsão sexual onde o compulsivo faz loucuras para transar insaciavelmente com infindáveis parceiros.
Segundo os evolucionistas, a procura por novidade na área sexual evolui porque essa estratégia de acasalamento aumenta as chances que os machos tenham uma grande quantidade de filhos e as mulheres, entre outras coisas, aumentem a diversidade genética dos seus filhotes, consigam repor mais rapidamente um parceiro quando o seu atual falta (devido o abandono ou morte) e aumenta as chances que elas recebam proteção e outros benefícios de mais que um homem.
O “ficar”
A balada estava animada. Ela tinha acabado de beijar um rapaz que acabou de conhecer. Uns “amassos” depois, ele foi ao toalete. Outro rapaz passou perto dela. Seus olhares se cruzaram. Ele retornou e a abordou. Trocaram algumas palavras gritadas, porque o som estava alto, e, rapidamente, ele mostrou a intenção de beijá-la. Ela manteve o olhar, o que ele interpretou como um sinal verde e, imediatamente, começou beijá-la. Naquela noite mais duas histórias parecidas com essas aconteceram com ela: no final da noite ela havia ficado com quatro pessoas. Ela ficava porque sentia muito prazer em atrair desconhecidos atraentes e beijá-los. Suas ficadas quase nunca passavam daí: nada de relacionamento, nada de sexo.
O ficar é uma prática onde a motivação principal é beijar diferentes parceiros. Essa prática é muito difundida entre os jovens. Uma enquete que realizei mostrou que universitários (24 anos em média) variam muito na quantidade de ficadas que já realizaram. Por exemplo, alguns deles nunca ficaram e outros já ficaram com mais que duzentos parceiros. Em média, os cerca de 500 que participantes desse estudo já haviam ficado com cerca de 20 parceiros diferentes.
O estilo de amor “ludos”
John Alan Lee, autor de uma famosa tipologia do amor, denominada “estilos de amor” (veja nesse blog um resumo dessa teoria no meu artigo “Estilos de Amor”), descreveu um grupo de pessoas (“Lúdicos”), que sente grande prazer na conquista amorosa. Uma vez realizada a conquista, quem tem esse estilo logo perde o interesse na pessoa conquistada. Por isso, quem tem este estilo está sempre tentando conquistar alguém.
Os lúdicos conseguem ter vários relacionamentos simultâneos e gostam de pessoas que têm diversos tipos de aparência e personalidade. O exemplo clássico de lúdico é o Don Juan, eternizado na literatura.
Monotonia: uma das principais causas da separação
Os estudiosos do casamento e da separação vêm apontando que nos primeiros anos do casamento há uma nítida diminuição da satisfação dos cônjuges e um decréscimo em vários tipos de comportamentos desejáveis em um relacionamento conjugal (diminuição do sexo, diminuição de manifestações românticas, diminuição do desejo para passar tempo junto com o cônjuge, etc.). Um dos motivos apontados para essa deterioração da qualidade do relacionamento é a rotina e a habituação que vai ocorrendo entre o casal.
Claro que a variação de parceiros não é a solução indicada para combater esse tipo de diminuição das novidades. Em um próximo artigo vamos apresentar algumas sugestões sobre a forma de manter o relacionamento entre o casal com um bom grau de imprevisibilidade e novidades o que contribui bastante para manter o interesse entre o casal.
A dose certa de novidade varia de uma pessoa para outra e de uma situação para outra. Novidade demais ou de menos pode arruinar um relacionamento. A dose certa de novidade mantém um relacionamento vivo e interessante indefinidamente.
Explica, mas não justifica
A existência do efeito novidade não justifica as traições e nem serve de encorajamento para desfazer os relacionamentos assim que eles começarem a ficar monótonos. Se as tendências justificassem nossas ações, todos nós já teríamos cometido muitos assassinatos, roubaríamos, abandonaríamos os filhos e só trabalharíamos quando desse vontade! Muitas vezes, existem fortes consequências que impedem que sigamos e expressemos livremente as nossas propensões!
A constatação da existência desse efeito apenas deve ser considerada um alerta para que cuidemos dos nossos relacionamentos e tomemos medidas que combatam a instalação de um grau de rotina muito elevado que podem provocar a perda de interesse entre os parceiros e o esvaziamento das suas importâncias mútuas!
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