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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Superação em preto e branco

Superação em preto e branco No filme de Noah Baumbach, apesar do toque melancólico, é possível pensar na protagonista como exemplo de resiliência Ana Clara Macedo Frances tenta, mas as coisas não dão muito certo para ela. Parece que sua vida é pontuada por pequenos erros: passos de dança descoordenados, expectativas frustradas, escolhas equivocadas. Avoada, fala o que lhe vem à cabeça e tem comportamentos que lembram os de uma criança travessa. Já nas primeiras cenas brinca de lutar em um parque de Nova York, corre e dança pelas ruas da cidade. Apesar de toda essa alegria, enfrenta ao mesmo tempo uma série de desafios que poderiam conduzir muita gente à depressão e à impotência, como o término do namoro, a falta de dinheiro, o afastamento e o descaso de sua melhor amiga, a dificuldade de se estabelecer e ser reconhecida profissionalmente. Isso sem falar nos desencontros que enfrenta no dia a dia. Ainda assim, existe na personagem algo de generoso – tanto em relação a si mesma quanto no que diz respeito aos outros. Provavelmente, é essa característica que lhe garante certa leveza, mesmo nos momentos de solidão e incerteza. É possível pensar na protagonista de Frances Ha como um exemplo de resiliência – a capacidade psíquica de superar os golpes da vida. Embora classificado como comédia, o filme em preto e branco – do diretor Noah Baumbach, de A Lula e a Baleia (2005) – não faz rir necessariamente, mas é bastante possível que provoque sorrisos empáticos. A desajeitada Frances, interpretada por Greta Gerwig, deixas transparecer em algumas cenas um quê de melancolia que pode ser confundido com resignação. Aos 27 anos, deseja ser bailarina profissional e anseia ser contratada pela companhia na qual trabalha. Na vida pessoal, cultiva a amizade com Sophie (Mickey Sumner), com quem divide um apartamento. Ela aposta nessa relação de afeto entre as duas e continua a fazê-lo mesmo quando a amiga se afasta após informar que vai se mudar para outro bairro de Nova York, sem muitos rodeios ou demonstrar grande preocupação com a forma como a colega vai se haver com o compromisso de pagar o aluguel. A partir daí, Frances vive várias situações em que se dá conta (talvez com pouca convicção) de que não tem um lugar que seja realmente seu. Sem ter onde morar, termina ocupando um quarto na casa de dois conhecidos, mas falta dinheiro para o aluguel e é preciso contar com a generosidade alheia. Na companhia de dança é excluída de uma apresentação e logo descobre que Sophie está de mudança para o Japão com o namorado e sequer lhe contou. Em meio ao caos que sua vida se torna, num gesto impulsivo ela simplesmente decide passar o fim de semana em Paris, no apartamento oferecido por um casal que acabou de conhecer em um jantar e paga a passagem com um cartão de crédito enviado pelo correio. Mas lá também as coisas desandam. Sozinha, ela passa a noite em claro e toma remédio para dormir. Resultado: com tão pouco tempo livre para desfrutar a capital acorda após as 16 horas, perde a festa de despedida de Sophie em Nova York, um jantar com amigos em Paris e volta às pressas para os Estados Unidos para participar de uma reunião na companhia de dança. Na verdade, não há nada de trágico, desmedido ou exacerbado na história – a trama é possível, marcada por desencontros, descompassos e solidão inerentes à vida. Talvez por isso seja tão fácil simpatizar com a atrapalhada Frances. Quando sua chefe lhe propõe um trabalho burocrático, Frances rejeita a ideia de imediato. Mas num segundo momento, diante da insistência da interlocutora, se dá conta de que é possível seguir um caminho alternativo, mas nem por isso menos eficiente. Aceita o emprego, porém não desiste de seu desejo: continua dançando no meio da rua e passa a criar coreografias que evidenciam justamente a imperfeição. Até mesmo os bailarinos que executam no palco os passos criados por ela fogem dos padrões esguios da maioria. Sua dança fala da tentativa e do erro. Há certo humor e delicadeza nos gestos, assim como na espontaneidade de Frances. Diante da descoberta de que é possível criar um caminho (bom de ser seguido) pautado pelas próprias idiossincrasias, ela encontra seu lugar. Flexível, faz caber em sua vida possibilidades que ampliam horizontes. E é aí que o espectador, finalmente, descobre de onde vem o “Ha” do título que acompanha o nome da personagem.

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