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domingo, 4 de maio de 2014
Ser verdadeiro consigo mesmo e com outras pessoas melhora o relacionamento
Ser verdadeiro consigo mesmo e com outras pessoas melhora o relacionamento
Aílton Amélio
Há pouco tempo foi publicado um artigo sobre uma pesquisa realizada por Amy Brunell, professora da Universidade de Ohio e colaboradores, sobre os efeitos benéficos que a autenticidade produz nos inícios de relacionamentos amorosos (Veja a citação na Nota, no final desse artigo). Segundo esses autores, pessoas “autênticas” são aquelas que conseguem ver a si próprias de forma clara e objetiva, agem de forma consistente com suas crenças e são honestas e verdadeiras com outras pessoas. São pessoas que comunicam para seus parceiros o que sentem e pensam. Essa autenticidade contribui para criar a intimidade nos relacionamentos e torná-los mais reais, consistentes e nutritivos.
Segundo essa pesquisa, a autenticidade masculina contribui mais para a criação de relacionamentos mais satisfatórios do que a autenticidade feminina. Uma possível explicação para esse fato é que as mulheres já agem mais dessa forma que eles.
Neste artigo vou apresentar a descrição de duas pessoas reais que conheci. Uma delas muito autêntica e a outra, pouco autêntica. A primeira dessas descrições mostra que é preciso mais do que autenticidade para produzir efeitos benéficos nos relacionamentos. Uma autenticidade mais grosseira e desrespeitosa (“sincero demais”) pode produzir verdadeiros desastres pessoais e sociais.
A autenticidade não está na moda
Estamos em uma época onde “deixamos por menos”. Como não sabemos como nos tornarmos psicologicamente mais atraentes, autênticos e carismáticos, partimos para o mais óbvio e imediato: para nos sentirmos importantes, sermos aceitos e fazermos sucesso, recorremos ao aperfeiçoamento da nossa aparência e procuramos obter e demonstrar poder e riqueza. Existem muitas clínicas para o tratamento da estética, academias de ginástica para melhorar o corpo, shoppings para a venda de vestuário, acessórios e produtos de beleza.
Mesmo quando temos uma ideia sobre como poderíamos nos tornarmos psicologicamente mais atraentes, isso pode ser excessivamente difícil para aqueles mais imediatistas: o desenvolvimento psicológico não pode ser comprado e exige muita dedicação e esforço para que mostre seus efeitos. Além disso, não existem institutos que nos ajudem a aumentar a atração pessoal através do aperfeiçoamento psicológico.
A mídia raramente destaca o valor, o poder e os benefícios da autenticidade. Ela só destaca os ricos, famosos e poderosos. Nunca vi um programa de televisão ou de rádio voltado para a glorificação de pessoas psicologicamente fascinantes e nutritivas.
Claro que muitas pessoas ficaram ricas e poderosas ajudadas pelos seus carismas e fascínios. No entanto, nas entrevistas com essas pessoas, nunca esses fatores psicológicos não são devidamente destacados. Por exemplo, nunca vi o destaque de um ótimo momento de autenticidade após uma entrevista televisiva. Nunca vi na televisão um resumo dos melhores momentos psicológicos onde atuações autênticas fossem examinadas em câmera lenta e amplamente comentados por especialistas competentes.
Neste artigo, para fins de ilustração, vamos apresentar um tipo psicológico autêntico e dotado de outras qualidades que faz dele alguém marcante e nutritivo para aqueles que convivem com ele. Para fins de contraste, vamos apresentar outro tipo bem menos autêntico e muito mais frequente na vida real.
Arnaldo, uma pessoa autêntica e harmônica
Mais autenticidade e menos média. Arnaldo não fazia muita média com as pessoas. Aqueles que esperavam bajulação, admiração fingida, cooperação para o sucesso da projeção distorcida da autoimagem e conivência para a manutenção de fantasias pessoais não podiam contar com ele. Por outro lado, se você quisesse alguém que realmente olhasse para você e não só para aquilo que você gostaria se mostrar ou que fosse visto, então ele era a pessoa certa.
Aceitação das outras pessoas. Arnaldo aceitava bastante as outras pessoas. Parecia estar ciente de que todos nós, inclusive ele próprio, tendíamos a distorcer um pouco as nossas percepções e que precisávamos fantasiar um pouco a nossa importância. Ele parecia considerar isso como parte da natureza humana e, por isso, não mostrava impaciência ou contrariedade quando lidava com essas distorções. Autenticidade sem imposição. Para Arnaldo, cada um tinha seu espaço psicológico. Ele sabia quanto cada um podia render e aceitava esses limites e não fazia que o seu interlocutor se sentisse mal. Não achava que era seu papel corrigir ninguém, mas também, não achava que era sua obrigação cooperar com as distorções alheias. Ele só agia dentro do espaço que o interlocutor permitia. Se julgasse que o interlocutor não tinha espaço para acolher o seu posicionamento, ele podia até se manifestar, mas não insistia ou se estendia naquilo que tinha para dizer.
Ele sabia respeitar os limites alheios e, ao mesmo tempo, não ser omisso.
Tato para lidar com as pessoas. Arnaldo sabia passar a sensação que você era aceito e, ao mesmo tempo, podia ser um pouco melhor do que era e que poderia corrigir um pouco a sua posição. As suas atuações corretivas eram indiretas e, após conversar com ele, você ficava estimulado a refletir sobre a sua forma de agir e pensar.
Não era rude e quase nunca provocava confrontos. O seu jeito de apresentar a sua posição fazia que as suas participações não fossem ameaçadoras para seus interlocutores. Não usava autoridade ou teorias psicológicas para impor ou apoiar suas posições. Centrava o que estava dizendo nas suas percepções da forma de agir das outras pessoas. Ele não dizia que as pessoas estavam erradas. O fato dele não apoiar várias das proposições que as pessoas esperavam que fossem apoiadas já era suficiente para indicar que ele não concordava totalmente com o que elas estavam dizendo ou fazendo.
Não era impositivo. Ele não mostrava necessidade de ser incluído ou se impor. Parecia que ele participava das reuniões sociais naturalmente e sem esforço. Não lutava para se fazer ouvir. Não se esforçava para agradar. Por outro lado, era sempre presente, participante e bem vindo. A sua presença era suave, forte e construtiva.
Respeito. Tinha boa autoestima e, por isso, não se sentia ameaçado ou diminuído. Não dava mais importância para as expectativas alheias do que para aquilo que sentia e pensava. Não costuma ficaria ansioso para cumprir compromissos. Era como se pensasse: o que pode acontecer de pior? Se acontecer terei condições de lidar com o acontecimento? Essa atitude tornava as coisas menos dramáticas e impositivas. Ele não costuma se render facilmente às pseudourgências que costumam esmagar a maioria das pessoas comuns.
Integridade e Honestidade. Arnaldo era honesto consigo e com os outros. Aqueles que se davam com ele sempre tinham a sensação que ele era verdadeiro. As suas posições realmente correspondiam ao que ele pensava e sentia.
Coragem. Arnaldo não era facilmente intimidável. Não se impressionava com credenciais, títulos ou posses dos seus interlocutores. Os seus olhos sempre se voltavam para o psicológico: o que o outro estava querendo obter com a sua atuação; o seu interlocutor estava sendo honesto? Ele estava solicitando o seu posicionamento explícito ou conivência sobre aquilo que estava expressando?.
Não ser imediatista. A forma mais imediata de evitar constrangimentos e encrencas é agir como as pessoas esperam que ajamos. A maioria de nós age socialmente guiada pelas consequências imediatas. Parece que perguntamos: “Como você quer que eu me comporte? O que você quer que eu diga? O que você espera de mim?" e respondemos "Se não for muito difícil, vou atender ás suas expectativas.”
Expansor de limites. Como era honesto consigo próprio e com as outras pessoas, Arnaldo sempre expressava o que realmente sentia e pensava ou, pelo menos, se recusava a cooperar explicitamente com as expectativas alheias que implicavam em se manifestar de forma que não concordava. Por esse motivo, uma conversa com ele produzia uma revisão da forma de pensar do seu interlocutor, o que estimulava o seu desenvolvimento e crescimento.
Presença. A sua atitude era expressa pelo que dizia, pela da sua forma firme e não ameaçadora de falar, pela sua forma tranquila de olhar e se movimentar e pela sua postura física. Esse conjunto tornava sua presença notável. Ele tinha algo a acrescentar. A sua honestidade e capacidade de percepção tornava interessante e valiosa a sua presença e as suas atuações.
Ângelo, uma pessoa pouco autêntica e ávida para obter resultados imediatos
Ângelo vivia estudando as mil e uma formas de agradar alguém e ser considerado importante.
Evitava frustrar as pessoas e era propenso a dizer o que elas queriam. Também não tinha coragem de contrariar. Se Ângelo era convidado por uma amiga para participar de um programa incômodo, ele não tinha coragem de dizer não. Estava sempre fazendo coisas que não queria.
Os seus relacionamentos não eram muito verdadeiros. As suas conversas abordavam temas que não eram muito motivadores para ele ou para seus interlocutores. Muitas vezes se pegava sustentando uma conversa ou um relacionamento que atendia muito pouco ou nadas as suas motivações.
Tinha medo de perder os relacionamentos caso fosse mais autêntico. Pior que tudo, não tinha nenhuma segurança de que poderia agradar ou, até mesmo, sobreviver socialmente, caso aumentasse o seu grau de autenticidade.
Não ser autêntico lhe diminuía a autoestima e lhe dava uma sensação de não existir socialmente.
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