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terça-feira, 17 de abril de 2012

Cadê meu celular

Cadê meu celular? Pessoas que sofrem de nomofobia deixam o celular ligado 24 horas por dia, sentem-se rejeitadas quando ninguém lhes telefona e enfrentam síndrome de abstinência quando estão sem o aparelho. O problema pode estar ligado a outros transtornos, como ansiedade e depressão Roberta de Medeiros Há pessoas que não conseguem ficar sem o celular nem por um instante. Essas pessoas entram num estado de profunda ansiedade e angústia quando se veem sem o aparelho, quando ficam sem créditos ou com a bateria no fim. A necessidade de estar conectado ultrapassa todos os limites. Uma pesquisa feita no The Royal Post, na Inglaterra, mostrou que 58% dos britânicos e 48% das britânicas sofrem de nomofobia. O nome vem do inglês no + mobile + fobia, ou seja, "fobia de permanecer sem conexão móvel", que inclui internet e celular. Essas pessoas não saem de casa sem o celular, mantêm o telefone ligado 24 horas por dia e sentem ansiedade quando o esquecem em casa. Antes de dormir, programam o telefone com o número do médico, do psicólogo e dos hospitais registrados em ordem por uma numeração específica, para o caso de ser necessário. Elas apenas precisariam apertar a tecla correspondente ao atendimento e logo encontrariam a providência desejada. Elas ainda se sentem rejeitadas quando ninguém lhes telefona ou quando percebem que os amigos recebem mais ligações do que elas. Quando ficam sem bateria ou fora da área de cobertura, se sentem ansiosas, angustiadas e inseguras. Para saber mais Nomofobia no Brasil A empresa francesa de pesquisa Ipsos publicou um estudo sobre o impacto do celular na vida cotidiana e mostrou como esse aparelho mudou a vida dos usuários. A empresa realizou as mil entrevistas com pessoas de ambos os sexos, de todas as classes sociais e com mais de 16 anos de idade, em 70 cidades e 9 regiões metropolitanas. Os resultados revelaram que 18% dos brasileiros admitiram ter dependência dos seus aparelhos. "Com esta nova liberdade, novas regras de coexistência têm influenciado e ditado pela comunicação e interação entre os indivíduos. Esta mobilidade leva a uma sensação de liberdade e a uma percepção de que podemos ter o mundo em nossas mãos. Essa sensação pode gerar um comportamento ambíguo de poder e medo", diz a pesquisadora Anna Lúcia Spear King. Para a psicóloga Sylvia van Enck, do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso, da USP, a nomofobia é um transtorno do controle dos impulsos com um forte componente de ansiedade generalizada. Alguém que apresenta algum transtorno no controle dos impulsos tem dificuldade para resistir à tentação de executar um ato que possa vir a ser prejudicial para si ou para os outros e obtém alívio e diminuição da tensão emocional e física quando a ação é executada. "O transtorno de ansiedade faz parte da caracterização dos transtornos no controle dos impulsos e, neste caso, a pessoa é acometida por uma apreensão negativa em relação aos eventos futuros, provocando sensações de inquietação psíquica e sintomas físicos desagradáveis", diz a psicóloga. Não é fácil se "desplugar" do celular, uma vez que, na sociedade tecnológica, o aparelho é sinônimo de status e inclusão social. "Podemos entender que o uso do aparelho celular, mesmo que não excessivo, especialmente em relação à população jovem, esteja relacionado aos aspectos de inclusão social e conectividade entre os amigos. Por outro lado, com o avanço dos recursos tecnológicos, adquirir um aparelho cada vez mais sofisticado confere status econômico e social, o que pode estar relacionado à busca de reafirmação da identidade psicológica dos adolescentes nesta fase da vida", analisa Sylvia. O mercado oferece uma infinidade de aparelhos, e é difícil resistir à tentação de adquirir o mais novo modelo. Cada vez mais a população jovem, incluindo crianças, está cedendo às pressões do mercado com a ajuda dos pais. Mas a psicóloga alerta: "Há um risco no desenvolvimento da insegurança pessoal que pode ser também o reflexo da insegurança dos pais, que precisam estar sempre tendo notícias do paradeiro dos filhos. Outro aspecto a ser considerado é a diminuição na resistência à frustração diante da espera de um contato ou do silêncio do outro, gerando ansiedade, angústia... que se não controlados, podem desencadear comportamentos agressivos, reflexos da intolerância gerada pela nomofobia", diz Sylvia. A nomofobia é um transtorno do controle dos impulsos com um forte componente de ansiedade generalizada O uso do celular, mesmo quando não é excessivo, está relacionado aos aspectos de reafirmação da identidade psicológica, status e inclusão social Transtorno de ansiedade Autora de uma tese de doutorado sobre o tema, a psicóloga Anna Llúcia Spear King, do Instituto de Psiquiatria da UFRrJ, comparou pacientes com um transtorno de ansiedade, conhecido como síndrome do pânico, com pessoas completamente saudáveis, para saber o que elas sentiam quando ficavam sem o aparelho celular. Entre os pacientes com pânico, a maioria demonstrou ter também a dependência do celular. Mesmo entre os considerados saudáveis, 34% confessaram sentir ansiedade e 54% disseram ter medo de passar mal na rua se ficassem longe do aparelho. Anna Llúcia lembra que nomofóbicos são pessoas que apresentam um perfil ansioso, dependente, inseguro e com uma predisposição característica dos transtornos de ansiedade que podem ser, por exemplo: transtorno de pânico, fobia social,fobia específica, transtorno de estresse pós-traumático; e costumam ficar dependentes da internet por medo de estabelecerem relacionamentos sociais ou afetivos pessoalmente. "Com o telefone celular em mãos, essas pessoas têm a sensação de estarem acompanhadas e se sentem mais independentes. Quando não existia o telefone celular, estes indivíduos não tinham a mesma liberdade de locomoção e autonomia que têm na posse do aparelho", explica. Muitas pessoas nomofóbicas, porém, não aceitam que são portadoras desse tipo de fobia e atribuem a sua angústia a várias causas. Colocam a culpa no trabalho ou na necessidade de se comunicar com a família ou com amigos, no caso de alguma emergência. "É comum os dependentes alegarem que não podem ficar sem celular devido ao medo de precisarem do aparelho no caso de uma emergência, quando estão fora de casa, por exemplo", comenta a psicóloga Juliana Bizeto, do Programa de Orientação e Atendimento ao Dependente (Proad) da Unifesp. reunidos em grupo Interessante constatar que, em comunidades virtuais, pessoas que se sentem nomofóbicas reúnem-se para debater sintomas e interesses em comum. Há diversas ocorrências, caso digite "nomofobia" no campo de pesquisa do Facebook e do Orkut. Neste último, por exemplo, há uma comunidade de quase 350 membros ativos, debatendo sobre o caso. Vale lembrar que gostar muito de celular não significa ter a nomofobia. Para este diagnóstico de uma patologia mais grave, a falta do aparelho acarreta sintomas como taquicardia, suores frios, dor de cabeça e sensação de nudez. Nestes casos é aconselhável a procura de Crianças que utilizam celulares o fazem muitas vezes por influência dos pais, que se sentem inseguros e, por isso, precisam ter notícias frequentes do paradeiro dos filhos Segundo Juliana, a dependência gera um impacto severo na qualidade de vida. "A pessoa não tem outras fontes de prazer, passa a se desinteressar por atividades sociais, afetivas e de lazer que anteriormente gostava. Ela tem uma relação exclusiva com o objeto de sua dependência e passaa gastar cada vez mais horas do seu dia a determinada situação". A psicóloga lembra que, no caso da dependência por celular ou internet, o problema pode ser camuflado, já que a sociedade aceita o uso abusivo dessas tecnologias. "A nomofobia pode acometer pessoas bem-adaptadas, que trabalham, estudam ou são casadas. Por isso, o problema não chama a atenção, são poucos sinais visíveis que denunciam a dependência", alerta. A mobilidade leva a uma sensação de liberdade e a uma percepção de que podemos ter o mundo em nossas mãos Para saber mais Uso excessivo do celular Os critérios que orientam a identificação do uso excessivo de celular são: Manter o celular sempre à mão, 24 horas por dia - mesmo quando dormindo -, para não perder qualquer possibilidade de contato; Abandonar as atividades para atender a qualquer chamada do celular (muitas vezes interferindo em situações de trabalho, estudo, reuniões sociais e familiares); Manter invariavelmente a bateria do celular carregada; Quando esquecer o celular em algum lugar, voltar para buscá-lo, pois, do contrário, este fato pode gerar extrema ansiedade (como se faltasse algo essencial). Em casos mais graves, as pessoas podem apresentar alterações de humor, da respiração, taquicardia, ansiedade. São tantas as opções de aparelhos que o mercado oferece que é difícil, para a maioria, resistir à tentação de adquirir novos modelos periodicamente Perfil dos dependentes Os alvos mais frequentes desse tipo de distúrbio são os adolescentes e os adultos com mais de 40 anos. "O fator de risco para desenvolvimento da dependência é a ocorrência de um evento traumático, como uma separação, a mudança de emprego ou a morte de um familiar", pontua Juliana. O abuso funciona como a única válvula de escape da pessoa, que passa a ter uma vida empobrecida e um campo de atuação muito restrito. A psicóloga lembra que os critérios de diagnóstico se apoiam na presença de três traços: exclusividade, tolerância e abstinência. Exclusividade, porque a tecnologia é a única fonte de prazer; tolerância, porque a pessoa passa a gastar um tempo cada vez maior com essa tecnologia; e abstinência, porque a pessoa apresenta sintomas desagradáveis quando está sem o aparelho, como irritabilidade, agitação e taquicardia. "O dependente pode até reconhecer que sua relação com a tecnologia não é saudável. Mas racionalizar é mais fácil do que ter a plena consciência de que está adoecido, numa condição de sofrimento que exige cuidado", diz o psicólogo Júlio D'Amato, da Universidade Federal Fluminense e professor da Unilasalle. Segundo ele, o uso abusivo da conexão móvel pode ser só a ponta do iceberg. Muitas vezes camuflam outros distúrbios. Os mais frequentes: transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), fobia social, transtorno de ansiedade, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). "As sensações desagradáveis experimentadas pelo nomofóbico quando está sem o seu celular, comuns num ataque de pânico, muitas vezes não estão sozinhas, mas acompanhadas de um processo depressivo encoberto. Esses processos não são puros, há uma articulação entre os transtornos", explica. Numa sociedade que oferta um sem-número de tecnologias e que exige que estejamos conectados permanentemente, como diferenciar um nomofóbico de um usuário habitual? Para D'Amato, o nomofóbico é aquele que não resiste ficar sem conexão à rede, porque precisa dar vazão ao seu impulso. Trata-se de uma neurose obsessiva. Falar ao telefone é uma forma de prazer que encobre a dor. "O caráter obsessivo é atendido na atuação desmedida do sujeito que se submete a demandas incontroláveis. Vale lembrar que essas exigências inconscientes, quando atendidas, logo se manifestam outra vez, levando o sujeito a reeditar comportamentos diante dos quais não consegue se insurgir ou mudar. É nessa perspectiva que podemos pensar, por exemplo, o vínculo do sujeito com atividades como se conectar, comprar, jogar ou comer", analisa D'Amato. "Vamos supor que alguém fale muito ao telefone devido às contingências do seu trabalho, mas que no fim de semana essa pessoa decide se desligar para se dedicar a outras atividades. É um caso diferente se a pessoa vai ao cinema e, no meio do filme, não resiste à tentação de fazer uma ligação ou de checar suas mensagens. Ou se a pessoa resolve falar com alguém no meio de um jantar, ainda que o telefonema seja adiável", exemplifica. Imposição tecnológica O psicólogo lembra que a pessoa tem de ficar atenta sempre que passar a se desinteressar por atividades sociais, afetivas e de lazer que anteriormente ela gostava. Esse processo vai minando lentamente a pessoa, que passa a despender cada vez mais horas do seu dia a determinada situação. Para a pesquisadora Josyane Llannes Florenzano de Souza, o transtorno ocorre devido ao fato de que em nossa sociedade o ser humano não vive mais num meio natural, e sim num meio técnico, que interpõe entre o homem e a natureza uma rede de máquinas e técnicas apuradas. "Em decorrência da expansão dos recursos técnicos, a estrutura da sociedade tecnológica resulta muito mais complexa do que a da sociedade tradicional", explica. Em consequência da ruptura entre as funções de produtor e consumidor, desempenhadas no passado pelos mesmos indivíduos, e da multiplicação artificial das necessidades de consumo, a organização social desdobrou os papéis sociais atribuídos a uma mesma pessoa. "Um indivíduo é ao mesmo tempo pai de família, empregado de uma fábrica e membro de um clube, de um partido político, de um sindicato, de uma igreja, etc. Por isso, os conflitos entre os papéis são muito maiores do que na sociedade tradicional. Essa complexa estrutura da sociedade acaba também demandando uma grande necessidade de comunicação entre os indivíduos. Porém, quando as pessoas se tornam dependentes dessa comunicação ativa, podem se tornar nomofóbicas", acrescenta.

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