ORIENTAÇÃO E ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO ON LINE
domingo, 4 de novembro de 2012
Você sabe diferenciar os seus amigos
Você sabe diferenciar os seus amigos?
A amizade, juntamente com as relações familiares e o amor romântico, dá sustentação e conteúdo para a nossa vida psicológica e prática. Ela tem uma importância fundamental para a formação e manutenção da nossa identidade e autoestima. A amizade tem um papel muito importante no nosso lazer e na nossa vida social. Além disso, a amizade favorece a nossa vida profissional.
Saúde e amizade
Vários estudos vêm mostrando que há uma relação inversa entre o recebimento de fortes apoios sociais e incidência de doenças cardíacas, infecções virais e câncer. As pessoas que costumam compartilhar seus sentimentos e pensamentos estão menos sujeitas a vários tipos de problemas psicológicos e físicos. Um destes estudos verificou que aquelas pessoas que revelam mais seus sentimentos e pensamentos para pessoas em quem confiam quando são hospitalizadas se recuperam na metade do tempo. A solidão (que inclui a ausência de amizades) está associada com maiores índices de infelicidade, suicídio e consumo de drogas. Um estudioso desta área afirmou que o apoio social funciona como uma espécie de vacina comportamental que protege a saúde física e mental.
Variações no conceito de amizade
A natureza daquilo que chamamos de “relação amistosa” varia muito entre as culturas (os alemães, por exemplo, são arredios a novas amizades, principalmente com estrangeiros), entre as idades (as crianças, por exemplo, dão muito valor para o compartilhamento de brinquedos) e entre os sexos (as mulheres, por exemplo, tentem a confiar mais nos amigos do que os homens; estes dão mais importância para as atividades que participam juntos do que para longas conversa pessoais).
Requisitos da definição de amizade para os americanos
Segundo pesquisas americanas 1, a amizade idade adulta inclui:
- A tendência para desejar o que é melhor para o outro
- Simpatia e empatia
- Honestidade: falar a verdade para o amigo quando ele estiver errado e isto for bom para ele.
- Compreensão mútua e compaixão
- Sentir prazer pela companhia do amigo
- Confiança mútua
- Fortes sentimentos positivos pelo amigo
- Percepção de reciprocidade da amizade
- A possibilidade de ser como realmente é, expressar sentimentos e cometer erros sem medo de julgamento.
Um artigo mais recente, publicado por Karen Karbo, na revista Psychology Today2, afirma que ficamos amigos daquelas pessoas que apoiam como somos (principalmente a nossa identidade social) e não por aquilo eles são! Este artigo também ressalta a importância do compartilhamento de sentimentos e pensamentos para a formação da amizade. Ressalta ainda, que para para criar amizades oferecer benefícios é mais importante do que recebe-los (você tende a gostar mais quem cuida do que de quem você recebe cuidados)!
Amizade no Brasil
Aqui no Brasil, a palavra “amigo” é usada em um sentido muito amplo. Ela é usada para nomear vários tipos de relacionamentos que vão desde alguém que adicionamos no Face Book ou que nos relacionamos superficialmente apenas no ambiente de trabalho, até alguém com quem podemos contar, que apoia a nossa forma de ser, pensar e sentir e com quem podemos contar para o que der e vier (apoio psicológico, apoio material, etc.). Entre estes dois extremos existem vários tipos de relacionamentos que possuem várias características peculiares e funções e que podem ser distinguidas entre si.
Aqui no Brasil ainda existem poucos estudos sobre a amizade. Uma destas exceções é o artigo teórico, muito interessante, dos professoras Luciana Karine de Souza e Cláudio Simon Hutz, da Universidade de Maringá3, sobre a amizade em adultos. Em uma seção deste artigo, esses professores apresentaram um breve resumo sobre as características da amizade que foram identificadas em três estudos realizados aqui no Brasil por outros autores. Estes dois professores de Maringá concluem que, aqui no nosso país, os atributos da amizade identificam-se com aqueles relatados na literatura internacional. Os principais destes atributos são os seguintes:
- Trocas afetivas
- Ajuda
- Companheirismo
- Diversão em certas atividades
- Intimidade
- Autovalidação.
Vantagens e desvantagens de estender o sentido da palavra amigo para vários tipos de relacionamentos
Por uma questão de falta de vocabulário, interesse ou polidez tendemos a chamar de “amigas” pessoas com as quais temos diversos tipos de relacionamento: conhecidos, colegas, parceiros profissionais, pessoas com as quais temos relacionamento apenas por pertencer à mesma equipe ou com as quais executamos tarefas que exigem coordenação de esforços.
A maior vantagem uso de certos termos com um sentido amplo é criação de proximidade psicológica naqueles casos aonde o uso da palavra “amigo” vai um pouco além daquilo que seria justificado pelo conteúdo do relacionamento. Por exemplo, chamar um desconhecido de “amigo” pode aumentar as chances de obter um pequeno favor da sua parte (“Amigo, por favor, você pode me indicar onde fica o posto de gasolina mais perto”?). Outros exemplos. Os alunos de escola primaria aqui no Brasil, muitas vezes costumam chamar as professoras de “tia”. Os árabes e judeus podem se chamarem de “brimos”; nós brasileiros muitas vezes costumamos nos referir aos argentinos como “hermanos”. Estes dois últimos rótulos geralmente são pronunciados com certas entonações de voz que lhes dão um sentido meio irônico e, ao mesmo, tempo carinhoso.
Por outro lado, a tolerância no uso deste termo para nomear relacionamentos tão díspares pode gerar erros de percepção e de expectativas que provocam frustrações e danos (cobranças injustificadas, confiar em quem não merece, etc.). Por exemplo, ao confundir uma relação hierárquica cordial com amizade podemos deixar o nosso chefe desconfortável quando o tratamos com a informalidade que é mais apropriada entre amigos
Tipos de relacionamento
Os relacionamentos podem ser classificados em várias categorias de acordo com suas origens, intensidades e conteúdos. Algumas dessas categorias são as seguintes (veja as sugestões de algumas destas categorias na wikipedia, citada no fim deste artigo):
Amizade emergencial. Uma amizade em que os amigos se reúnem com frequência para dar incentivo e apoio emocional para aquele que se encontra em momentos de grande necessidade. Este tipo de amizade tende a durar apenas quando partes opostas cumprir as expectativas de apoio para o relacionamento.
Amigos unilaterais. Tal como acontece com o amor romântico não correspondido, a amizade que uma pessoa sente por outra pode não ser correspondida. Um pesquisador pediu a estudantes que se relacionavam entre si que atribuíssem graus de amizade para os seus relacionamentos. A análise dos resultados mostrou que os graus de amizade muitas vezes não eram correspondidos. Certas pessoas eram consideradas como muito amigas por diversas outras, mas elas não apontaram essas outras como sendo suas amigas no mesmo grau. O mapa das amizades que foi construído através desta pesquisa (“sociograma”) mostrou um bom grau de desencontro entre as amizades.
Conhecidos. Os laços emocionais estão ausentes. Não é esperado apoio emocional ou material entre pessoas que têm este tipo de relacionamento. São pessoas, por exemplo, que acabaram de se conhecer e vão tomar café juntas em um intervalo entre as conferências de um congresso.
Melhor amigo. Pessoas que compartilham fortes laços interpessoais e que colocam a outra em primeiro lugar neste tipo de relacionamento
Amigos com benefícios. Amigos que também praticam sexo entre si. Quando não há sentimentos românticos de ambas as partes, o sexo, neste caso, geralmente beneficia a amizade.
Amigos de família. Uma amizade entre membros de duas famílias que tem a sua origem na amizade entre outros membros. Por exemplo, a amizade entre os pais de duas famílias acaba sendo estendida, numa certa medida, para as suas esposas e filhos.
Amigo de internet. Uma amizade que foi formada e que se mantêm restrita à intermete. Neste caso pode haver troca de apoios mútuos, companhia virtual agradável e alívio da solidão.
Notas
1. Wikipedia. http://en.wikipedia.org/wiki/Friendship (acessado em 03/11/2012)
2. Karbo, K. Friendship (2012). How win friends and influence people. http://www.psychologytoday.com/collections/201210/how-win-friends-and-influence-people/friendship-the-laws-attraction
3. Souza, L. K. e Hutz, C. S. (2006) Relacionamentos pessoais e sociais: amizade entre adultos. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 2, p. 257-265, abr./jun. 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n2/a08v13n2.pdf
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário