ORIENTAÇÃO E ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO ON LINE
sábado, 13 de julho de 2013
O apoio psicológico é mais importante do que o apoio material
O apoio psicológico é mais importante do que o apoio material
Está passando uma propaganda na televisão que mostra algo mais ou menos assim: um senhor já avançado em anos, que parece ser muito distinto e abastado, se lastima porque participou pouco do dia a dia dos filhos, quando eles eram crianças e adolescentes. Esse senhor alega que esta pequena participação aconteceu porque ele passava todos os dias fora de casa trabalhando duro para poder proporcionar uma excelente condição econômica para a família: boa casa, ótimos colégios, viagens, etc. Mas, agora, parece arrependido. Se pudesse voltar no tempo, ele conviveria mais com os filhos!
Recebo no meu consultório muitas pessoas que reclamam que um ou ambos os pais eram ótimos para proporcionar cuidados físicos (pronto atendimento nas doenças, boa comida, proteção contra as oscilações de temperatura, evitação de perigos, etc.) e materiais (excelentes brinquedos, viagens, ótimos colégios, etc.), mas que tomavam pouco conhecimento dos sentimentos e pensamentos dos filhos e não eram carinhosos. Os filhos de pais assim geralmente apresentam problemas psicológicos como dificuldade para se envolver afetivamente e insegurança.
O apoio na infância e na adolescência é um dos principais fatores que contribuem para uma visão das outras pessoas como agradáveis, confiáveis, benignas e capazes de oferecer conforto em situações difíceis. Este tipo de apoio também é um dos principais determinantes da percepção de si mesmo como digno de receber essas atenções positivas por parte das outras pessoas.
Apoiadores qualificados
O apoio de certas pessoas faz mais efeito do que o apoio de outras. Os apoiadores diferem quanto à quantidade de situações nas quais eles são os apoiadores mais importantes. Por exemplo, para uma criança, a mãe geralmente é a apoiadora mais importante em uma grande quantidade de situações. Para o adulto, o cônjuge geralmente tem essa função, embora, em algumas situações, ela seja ocupada por amigos ou especialistas (por exemplo, o apoio de um cirurgião plástico pode ser o critério mais importante para colocar silicone).
As crenças e atitudes de um bom apoiador
Um bom apoiador tem atitudes, crenças e valores que guiam os seus comportamentos de apoio. Algumas deles são os seguintes:
- Existem várias maneiras de sentir, pensar ou de ser que podem ser igualmente boas ou meritórias.
- Cada um tem o direito de optar pela maneira de ser e agir que mais lhe agrada e responsabilizar-se por ela.
- Confio na capacidade de autogerenciamento das pessoas. Elas têm a capacidade de gerir suas próprias percepções e ações e se responsabilizarem por elas. Por isso, não preciso tentar impedi-las de agir de forma errada ou que vá lhes trazer sofrimento.
- É benéfico para as pessoas que elas desenvolvam suas percepções, sentimentos e pensamentos sobre elas próprias e sobre as situações que têm que lidar. Durante esse desenvolvimento, muitas vezes, elas cometerão erros. O preço desses erros é menor do que aquele que seria pago por não desenvolver essas capacidades. Por isso, as pessoas têm que usar seus próprios critérios de decisão, agir, sofrer as consequências e aperfeiçoar os critérios de decisão que usaram.
Os pais deverão estimular os filhos para desenvolverem suas próprias análises e testes da realidade. O objetivo final é torná-los independentes e responsáveis pelas suas próprias análises, critérios, ações. “É melhor ser um mau original do que uma ótima cópia” (afirmação atribuída a Raul Seixas).
- O apoiador tem que acreditar que o interlocutor tem direito ao seu modo de pensar e sentir e reagir e que é melhor para este ter esse tipo de autonomia.
- O apoiador tem que gostar mais do apoiado do que aquilo que ele próprio acredita que seria mais “correto”, “mais racional” ou “mais eficaz”. Quando o apoiador avalia que aquilo que o apoiado quer fazer não é a melhor opção, ele deve calcular se este vai ficar mais feliz se agir da forma que este pretende ou se agir e errar vai ser útil para o seu aperfeiçoamento ou ainda, se este quer agir daquela forma apesar de todas as considerações em contrário. Neste caso o apoiador deve oferecer o seu apoio para as decisões do apoiado e não cobrá-lo por não ter seguido seus conselhos quando as coisas derem errado. Ou seja, importa mais o bem estar do apoiado. Se aquilo que ele pensa, quer ou o deixa magoado é correto, razoável ou racional é desejável, mas não imprescindível para receber o apoio.
- O apoiador também tem o direito de não assumir consequências por decisões do apoiado.
Ouvir sem dirigir o interlocutor é um excelente tipo de apoio
Ouvir interessadamente, sem dirigir o que o interlocutor está relatando, sem aconselhar e sem dar palpites pode produzir excelentes benefícios para pessoas que estão passando por momentos difíceis.
Ao mesmo tempo em que ouve a queixa, o apoiador deve mostrar empatia e envolvimento com o está sendo relatado. As principais formas de mostrar isso são as seguintes:
- Apresentar ecos emocionais das emoções que o relator está expressando na voz, nas expressões faciais e pequenos comentais verbais que não interrompam ou dirijam o seu relato (“Quer horrível”, “Nossa!”, “Puxa!).
- Deixar de fazer e prestar atenção em outras coisas.
- Assumir uma posição que indique que tem tempo para ouvi-lo: convidá-lo para sentar-se, fechar a porta, encostar-se em uma parede, etc.
- Mostrar interesse pelo que aconteceu, pelo que o interlocutor pretende fazer diante do acontecido, pela forma como se sentiu, pela forma como pretende reagir.
- Se necessário, apresentar feedback sobre a forma como agiria ou sobre percepções do ocorrido que difiram das percepções de quem está sendo apoiado.
Exemplo de diálogo contendo um desabafo e sua recepção apoiadora
D – Quem presenta o desabafo.
O – Quem ouve o desabafo
Meus comentários estão entre colchetes [ ]
Diálogo
D - Estou furiosa.
O - O que aconteceu? [Pergunta induzida pela frase anterior. O ouvinte, por exemplo, não se sente à vontade para dizer “Que bonito brinco!” Mesmo que o diga (se o brinco for excepcionalmente bonito), ele se sentirá compelido a dizer em seguida, “Porque você está furiosa?”]
D- Meu ex-marido tratou pegar a filha para passar o fim de semana com ele e deu cano!
O - Deu cano? [Pede para expandir uma afirmação]
D- Sim. Ele sempre faz isso. Ele cria este tipo de expectativa para ela, não cumpre e depois ela fica chorando.
O - que chato! [“Empatiza” – mostra um sentimento similar ao de quem desabafa] E você como está se sentindo? [Mostra interesse pelos sentimentos para ajudar a pessoa a continuar a desabafar]
D- Revoltada! Eu ainda vou aprontar com ele.
O - É? O que você pensa em fazer? [Incentiva D a apresentar a sua raiva e planos para dar vazão a ela]
D- Da próxima vez que ele se atrasar, vou sair com ela. Ele sempre foi assim, irresponsável. Ele também está com a pensão atrasada. Vou processá-lo.[O apresenta cara de pesar e lábios comprimidos - empatia ] A pensão também está atrasada? [Incentivo para que D fale mais sobre esse assunto].
D - Sim. É um canalha. Dá vontade de matar aquele desgraçado. [De não responde à pergunta. Prefere continuar a expressar a sua raiva]
O - Entendo a sua raiva. Eu também pensaria coisas assim [Empatiza: apóia o sentimento raiva. Diz que reagiria da mesma forma - Informação gratuita].
D – Não dá nenhuma satisfação. [D apresenta resposta mínima. Pode indicar que não está interessada neste tópico]
O - E a filha, como reage quando ele se atrasa? [Mesmo comentários sobre a atuação de O, na pergunta anterior]
D- Fica muito triste e frustrada. [D apresenta resposta mínima. Pode indicar que não está interessada neste tópico]
O - O que pega mais você, o atraso ou os efeito na filha?
Quem está desabafando exagera, promete o inferno, xinga, ameaça, faz planos terríveis de vingança. Depois que ele se acalma, as suas reações retomam proporções mais realistas. Se a pessoa transtornada é acolhida adequadamente, o transtorno passa mais rápido.
Um dos maiores ganhos proporcionados pelos relacionamentos íntimos é o apoio psicológico. Eu me arriscaria a dizer que, dentro de certos limites, este tipo de apoio é mais importante do que o apoio material. As pessoas podem desenvolver um bom equilíbrio psicológico em diversas situações econômicas, mas dificilmente serão equilibradas em qualquer uma delas se não receberem um mínimo de apoio psicológico.
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