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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Enquanto a casa cai

Enquanto a casa cai A esta altura do campeonato, redefinir nossa relação predatória com a terra vai sair bem caro. Nossos hábitos vão ter que mudar, mas postergar essa adaptação será ainda pior Sidarta Ribeiro Em aula magna na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, um dia após o primeiro debate presidencial, Leonardo Boff fez um diagnóstico preocupante: nenhum dos candidatos havia dito com clareza a coisa mais importante de todas, que é o fato de vivermos uma emergência ecológica e social sem precedentes, a exigir nossa atenção imediata. O aumento da temperatura média da Terra, as grandes variações climáticas associadas a esse aumento, a desorganização da agricultura e a possibilidade de que falte água até para beber deveriam tirar nosso sono – mas não tiram. Enquanto o desastre não se instala completamente, fingimos ser possível externalizar todos os prejuízos sem pagar preço algum por isso. Civilização equilibrada apenas pela velocidade, sem harmonia nem sustentação, bicicleta desgovernada em direção ao muro. Na África, o descontrole da epidemia de ebola, ainda sem remédios por desinteresse das farmacêuticas. Nos EUA, a dificuldade de conter a disseminação hospitalar das superbactérias selecionadas pelo uso excessivo de antibióticos. Guerra, fome e peste sempre mudaram as páginas da história. Povos desaparecem rápido, e o holocausto dos índios será luta de morte até o fim. E depois deles os demais? Enquanto a casa cai, nos distraímos com banalidades. Candidat@s se estapeiam e disputam quem tem mais rabos presos. Imersos em jogos de poder e dinheiro, enredados em disputas tribais, siderados pela discussão do comportamento alheio, passivamente vemos Gaia adoecer de nossa própria existência. Em nosso país há pouca percepção do tamanho do problema e da responsabilidade que nos cabe. As próximas gerações de terráqueos precisam desesperadamente da liderança ambiental do Brasil. Temos um imenso território, vastíssima fauna e flora e uma população ainda administrável se comparada à da China, país que melhor ilustra a relação tóxica entre crescimento econômico e crise ecológica. Mas parece que não descansaremos enquanto não virarmos a China latina. Desmatamos mananciais, não reciclamos lixo, vertemos esgoto nos rios e adoramos embalagens. Queremos crescer mais e mais. Preocupações ecológicas são tidas como frescura num país com excesso de carros e péssima mobilidade pública. País em que as grandes construtoras financiam as campanhas dos principais candidatos e cimentam tudo que podem. País engajado em construir hidrelétricas na Amazônia, cuja energia alimentará as novas cidades de faroeste em torno das obras, se dissipará em linhas de transmissão de dimensões continentais e fomentará mais indústrias de exportação de matérias-primas para o banquete do mundo. Somos o Império do Sol que investe migalhas na pesquisa de painéis fotovoltaicos, mas atrela a educação e a saúde de seu povo ao petróleo altamente poluente. A preocupação com a grande emergência ambiental costuma ser tachada de apocalíptica ou descaso com os mais pobres. Afinal, todos têm direito ao livre consumo capitalista, certo? Errado. Se acelerar a independência do petróleo é essencial, reduzir o consumo inútil é vital. A esta altura do campeonato, redefinir nossa relação predatória com a Terra vai sair bem caro. Nossos hábitos vão ter que mudar, mas postergar essa adaptação será ainda pior. Ou mudamos ou nos acabamos. O resto é distração.

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