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quarta-feira, 9 de maio de 2012
Amor das 9 às 18h
Amor das 9 às 18h
Qualquer um pode envolver-se com colega de trabalho, afinal a convivência entre os pares torna-se mais intensa. Mas como os departamentos de RH das empresas encaram esses relacionamentos amorosos?
Por Eduardo Campos Lima
Entre os objetivos da área de Recursos Humanos de uma empresa está o estímulo a um ambiente de trabalho agradável para os funcionários, no qual condições favoráveis alavancam o desempenho individual e da equipe. O bom relacionamento entre os colegas é parte primordial dessa dinâmica. Entretanto, freqüentemente o contato diário acaba estabelecendo as bases para relacionamentos amorosos, que por vezes até terminam em casamento. Lidar com essa questão no ambiente empresarial deve ser tarefa, em grande parte, da área de RH. “Há vida amorosa na empresa, sem dúvida. O que deve ser discutido é como ela se dará”, afirma Ana Cristina Limongi-França, professora de Gestão de Pessoas da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.
POR QUE NO TRABALHO?
Uma variada gama de motivos faz com que o local de trabalho seja propício ao namoro entre os funcionários. “Passamos a maior parte do dia no trabalho e sabemos que isso eventualmente pode ocorrer – ainda mais porque, em nossa empresa, grande parte dos ingressantes são pessoas interessantes, jovens, com uma boa formação cultural”, explica Paula Traldi, diretora de Recursos Humanos da Novartis, multinacional farmacêutica de origem suíça.
É comum o relacionamento entre colegas permanecer em segredo ou vir à tona em ocasiões festivas informais e happy hours
A natureza da atividade profissional e as condições em que ela acontece podem ser fatores ainda mais importantes. “Se a pessoa fica muito tempo confinada, trabalha à noite ou passa grandes períodos afastada da família por causa do trabalho, há mais chances de surgirem relacionamentos amorosos”, aponta a professora Ana Cristina.
No ano 2000, a sexóloga norte-americana Shere Hite publicou o livro Sexo e Negócios, que traz uma série de dados sobre o amor no ambiente profissional. Após realizar um levantamento em diversas empresas dos Estados Unidos, a autora concluiu que 42% dos funcionários entrevistados têm algum tipo de relacionamento amoroso com um colega de trabalho. Outros dados apresentados dão conta de que sete em cada dez homens já tiveram algum tipo de caso amoroso no serviço – o número cai para seis entre dez, no caso das mulheres.
O COMEÇO
A partir do momento em que se inicia um relacionamento, diversas são as maneiras como o casal lidará com a questão e mais variadas ainda serão as reações à novidade. “Há casais que gostam de anunciar à toda a equipe a nova situação. Mas isso não é necessário. Em nossa empresa, promovemos happy hours e outras ocasiões festivas informais em que isso pode vir à tona, sem o menor problema”, conta Vladimir Chiari, gerente de RH da Allergan Brasil, indústria farmacêutica norte-americana.
“Por outro lado, também não há motivos para se manter a relação em segredo. A tendência é que a notícia se espalhe naturalmente, pelo boca-a-boca dos colegas”, completa Chiari. A administradora de empresas e profissional de RH Olívia Gryschek, 25 anos, optou por consultar seu chefe quando começou a namorar um colega seu da Novartis em 2004, época em que ambos eram estagiários. “Éramos da mesma equipe e confiávamos no gestor, portanto optamos por ter uma conversa com ele”, relembra. O chefe do casal os tranqüilizou, dizendo que não havia problema algum. “Ele nos disse que sabia que éramos ótimos profissionais e que a nova situação não alterava esse quadro – continuaríamos trabalhando bem, independentemente da relação”, afirma.
DISCRIÇÃO
O chefe da equipe em que Olívia e seu namorado trabalhavam, entretanto, os aconselhou a manterem o relacionamento em segredo por um tempo. “Trabalhamos juntos durante três meses e depois meu namorado mudou de área”, diz Olívia. Com a mudança, o casal perdeu muito do contato dentro da empresa, sendo mais fácil lidar com a questão.
O afastamento funcional pode facilitar a manutenção de preceitos básicos para o namoro na empresa. “O essencial, para o casal, é manter cuidado e discrição. Deve ser prioridade dos dois evitar a exposição de sua intimidade e os eventuais conflitos que dela possam recorrer”, acredita a professora Ana Cristina. “Se o casal se expõe muito, as outras pessoas da empresa podem não entender o relacionamento como algo benéfico”, afirma Chiari.
Olívia e seu namorado procuraram manter a rotina normal. “Deixamos as coisas como sempre. Após um período inicial, se alguém nos perguntava se estávamos namorando – porque havia nos visto juntos fora da empresa – passamos a responder que sim”, recorda. Dentro da companhia, os dois nunca combinavam de almoçar ou tomar café sozinhos – isso só acontecia se outras pessoas da equipe também estivessem presentes. “Quando queríamos almoçar juntos, combinávamos de fazê-lo fora de lá, em algum restaurante”, conta.
REAÇÕES ADVERSAS
Os problemas decorrentes de relacionamen- tos amorosos com colegas de trabalho são inú- meros. “Pode surgir conflito de interesses. Além disso, quando as pessoas estão muito apaixona- das, os sentimentos podem afetar suas decisões no trabalho”, avalia a pro- fessora Ana Cristina. “Por mais maturidade que se te- nha, o amor acaba influen- ciando no trabalho. Além disso, a proximidade maior entre duas pessoas pode ser encarada pelas outras como um problema, e aí podem surgir rumores de informa- ção privilegiada ou favore- cimento”, explica Chiari.
Muitas empresas pro- curam lidar com o tema desde o início. “Na Novartis, perguntamos na fase de contratação se a pessoa tem qualquer tipo de relacionamento – não apenas amoroso – com algum funcionário da empresa. Assim, evitamos expô-la a um possível conflito de interesses”, afirma Paula Traldi.
Na opinião de Olívia Gryschek, o namoro com um colega de trabalho pode ser prejudicial em algumas situações. “Se meu objetivo de per- formance for de encontro ao objetivo do meu parceiro, o relacionamento pode ser prejudicial à carreira profissional – ou o trabalho pode aca- bar prejudicando o namoro”, acredita.
O tamanho da empresa e da equipe pode ser outro fator de peso. “Quando a empresa é grande, fica mais fácil ser discreto. Em negócios de pequeno porte, o casal acaba ficando muito exposto às vistas e aos comentários dos colegas”, aponta Chiari. Além disso, os efeitos do relacio- namento amoroso descuidado também podem ser mais prejudiciais para empresas de pequeno porte. “Em uma empresa pouco estruturada, que não tem processos rígidos e em que se depende muito do relacionamento para crescer, os rumo- res sobre favorecimento de um determinado fun- cionário promovido por conta de seu caso com alguém são mais freqüentes”, afirma Olívia.
"QUANDO A EMPRESA É GRANDE, FICA MAIS FÁCIL SER DISCRETO.
EM NEGÓCIOS DE PEQUENO PORTE, O CASAL ACABA FICANDO
MUITO EXPOSTO AOS COMENTÁRIOS DOS COLEGAS "
Decisões erradas, tomadas por pessoas envolvidas amorosamente com um colega, também podem afetar de maneira mais significativa pequenos negócios. “Se cabe a um determinado número de gestores fazer uma determinada escolha e dois deles es- tiverem envolvidos em um relacionamento, a discussão pode não ser tão proveitosa e o equi- líbrio dos pesos pode ser comprometido, le- vando a uma decisão pior para a companhia”, diz Olívia.
O NAMORO PODE SER BENÉFICO
Apesar de todas as transformações neces- sárias para o equilíbrio da situação e de todos os riscos inerentes, na- morar alguém do trabalho pode trazer mui- tos benefícios – mesmo no que diz respeito à vida profissional. “O positivo é que você di- vide de igual para igual os assuntos relacio- nados ao trabalho com o seu parceiro – por se tratar da mesma empresa, a conversa é ainda mais enriquecedora”, acredita Olívia.
Coaching já!
Este é um pro- cesso com início, meio e fim, definido em comum acordo entre o profissional e o cliente confor- me estabelecido pelo cliente, por meio da identifi- cação e uso das próprias competên- cias desenvolvidas, como também do reconhecimento e superação de suas fragilidades. Caso a empresa reconheça que o relaciona- mento amoroso interfere no anda- mento profissional recomenda-se esta técnica. O coach atua encorajando e motivando seu cliente, procurando transmitir-lhe técnicas que melhorem suas habilidades profissionais ou pessoais, visando a satisfação de objetivos definidos por ambos. Consideram- se idéias como a de que o simples fato de compartilhar pensamentos/ idéias soltos e organizá-los, tranformando em uma meta desafiante com um Plano de Ações, pode levar a concretizar antigos sonhos. O coach avalia as forças e fraquezas do seu cliente face aos objetivos e ao meio em que este atua e define um plano que permita alcançar seus resultados.
Vladimir Chiari concorda que o diálogo mais próximo também é benéfico. “Se você discute coisas comuns da profissão com seu parceiro, e ainda por cima o ambiente corporativo é o mesmo, a tendência é que os dois cresçam juntos”, afirma. Olívia, que hoje em dia trabalha em uma empresa diferente da de seu namorado, já percebeu diferenças com relação a esse aspecto. “Hoje em dia, quando conversamos sobre trabalho não parece mais algo tão próximo, pois estamos em mundos diferentes”, compara.
No estudo de Shere Hite, 73% das mulheres consideraram o envolvimento com um colega de trabalho negativo. “Mas manter relacionamentos amorosos no trabalho não necessariamente atrapalha a carreira – depende muito de com quem se namora. Há estudos acadêmicos que dizem que pessoas que se relacionam com parceiros da mesma área de atuação tendem a ter mais sucesso na vida profissional”, argumenta a professora Ana Cristina.
POSTURA NO RH
No estudo de Shere Hite, 73% das mulheres consideraram o envolvimento com um colega de trabalho negativo. “Mas manter relacionamentos amorosos no trabalho não necessariamente atrapalha a carreira – depende muito de com quem se namora. Há estudos acadêmicos que dizem que pessoas que se relacionam com parceiros da mesma área de atuação tendem a ter mais sucesso na vida profissional”, argumenta a professora Ana Cristina.
A política da companhia com relação a relacionamentos amorosos precisa ser clara e conhecida por todos os funcionários, e deve ser alinhada à cultura da empresa. “Com uma política definida, os funcionários terão mais consciência da postura a se manter”, acrescenta.
Segundo Paula Traldi, a Novartis estabelece algumas orientações gerais que dizem respeito a todos os tipos de relacionamento, não apenas os amorosos. “São regrinhas de conduta que visam à manutenção de um equilíbrio”, explica. Entretanto, as diretrizes não são muito específicas. “Regrinhas como ‘não pode andar de mão dada’ ou ‘não pode dar beijo’ não são adequadas para uma empresa, mas para uma escola. É como a funcionária que vai trabalhar com uma saia muito curta todo dia. Ninguém dirá nada a ela, mas ela perceberá, em algum tempo, que é a única a se vestir daquela maneira”, diz Paula.
Segundo Paula, a postura do RH da Novartis é procurar não dar vazão a rumores, mantendo um bom clima de trabalho. “Cada um é livre para namorar quem quiser. Só pedimos que as pessoas dividam esse tipo de informação com o RH, pois elas ficam mais frágeis quando estão numa situação dessas sozinhas”, explica a diretora. Outra orientação geral da companhia diz respeito ao namoro entre colegas da mesma equipe. “Pedimos às pessoas que não se relacionem com pessoas do mesmo departamento. Mas a empresa é grande e, quando isso ocorre, tentamos transferir uma das pessoas para outro setor”. Paula dá um exemplo: em sua própria equipe, houve um namoro entre um funcionário que trabalhava no Rio de Janeiro e uma profissional de São Paulo. “A pessoa do Rio de Janeiro acabou voltando para trabalhar em São Paulo. Consegui transferir um dos dois para outra área do RH e eles não trabalharam na mesma equipe”, narra. O namoro continuou e os dois casaram- se, um tempo depois.
Discutir coisas comuns e ter o mesmo ambiente corporativo do parceiro pode ajudar no crescimento individual e da relação
Na Allergan, a área de Recursos Humanos preocupa-se com possíveis relacionamentos amorosos entre chefes e pessoas de sua equipe. “Tentamos evitar de maneira mais formal que subordinados e gestores namorem. Mas às vezes acontece – há quatro anos tivemos um caso. Conseguimos criar uma oportunidade em outra área para uma das pessoas envolvidas e o problema foi resolvido”, explica.
INTROMISSÃO
Apesar de fazer parte de seu papel estabelecer diretrizes que digam respeito a todas as suas atividades, não cabe à empresa, segundo especialistas na área, determinar medidas de controle sobre assuntos privados de seus funcionários. “Não seria ético nem produtivo controlar a vida das pessoas”, acredita Chiari. “Nossa postura é receptiva, muitas vezes: recebemos a pessoa, ouvimos o que ela tem a dizer e damos nossas orientações gerais de maneira discreta. Nossa gestão é bem informal”, afirma.
“Há uma linha muito têneu entre a vida privada do funcionário e a empresa. O namoro entre colegas de trabalho só passa a ser um problema da empresa se houver impacto no desempenho de trabalho ou algum problema envolvendo oportunidades de carreira”, acredita Paula Traldi.
Problemas com desempenho podem estar ligados à falta de concentração e à dispersão. “Em algumas situações, as pessoas conseguem lidar com problemas em sua performance durante muito tempo, sem que o chefe consiga aferi-los”, afirma Chiari. Para ele, ambientes em que houve muitos casos amorosos podem ter uma atmosfera de emoções que impactam o desempenho dos funcionários. “Quando se trata da área de vendas, por exemplo, a questão é de difícil solução, porque as pessoas trabalham no campo, portanto mais afastadas do gestor”, completa.
O namoro entre colegas só se torna problema da empresa se há impacto no desempenho ou em oportunidades na carreira
Mas Olívia Gryschek, que experienciou ela mesma uma situação desse tipo, não acredita que namoros possam prejudicar o trabalho. “A dispersão pode acontecer com casais de namorados, mas também entre amigos. A pessoa que se distrai o faz de qualquer maneira, namorando ou não. Além disso, acredito que áreas em que houve problemas com grande número de relacionamentos amorosos tendem a não ser um ambiente sustentável e, por isso, acabam sendo reconfiguradas”, conclui.
A POLÍTICA DA COMPANHIA COM RELAÇÃO A RELACIONAMENTOS PRECISA SER CLARA E CONHECIDA POR TODOS OS FUNCIONÁRIOS
Para a professora Ana Cristina, a empresa também tem um papel a desempenhar no momento em que o namoro entre pessoas da mesma equipe chega ao fim. “No caso da separação, como isso é tratado? A pessoa vai ser excluída da equipe, porque o namoro com um colega chegou ao fim? Para evitar os problemas relativos aos desdobramentos naturais de uma situação dessas, a empresa tem que intervir com um coaching e mostrar seu apoio”, afirma.
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