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segunda-feira, 25 de março de 2013
Lidar com a mudança é difícil, mas indispensável ao crescimento
Lidar com a mudança é difícil, mas indispensável ao crescimento
Marina Oliveira e Rita Trevisan
As transformações, mesmo aquelas que saem exatamente como se esperava, são sempre uma oportunidade de evolução
É quase impossível não sentir algum nível de desconforto diante de uma mudança. O problema começa quando essa sensação se transforma em um sofrimento profundo, que paralisa, comprometendo a evolução pessoal.
"Toda mudança é uma crise, porque implica sair de uma situação da qual temos controle para nos lançarmos em direção ao desconhecido", explica o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, doutor em ciências médicas pela USP. De acordo com ele, a mudança só é vista com bons olhos por quem está em uma situação que reconhece como muito desagradável. Ainda assim, é difícil. "Quando estamos na zona de conforto, é muito difícil encontrar forças psicológicas para mudar, mesmo que estejamos conscientes da necessidade de buscar algo melhor", diz.
Isso explica porque algumas pessoas se recusam a sair de relacionamentos que só trazem infelicidade ou a deixar um emprego estável, porém, que já não oferece mais satisfação. De acordo com a psicóloga Heloisa Fleury, professora do Instituto Sedes Sapientiae, essa tendência à inércia tem razão de ser. "Nos acostumamos com determinados comportamentos para resolver problemas e enfrentar condições novas requer estratégias diferentes. O conhecido nos remete a um sentido de familiar e, de certa forma, nos traz bem-estar", aponta.
Quem não tem uma boa autoimagem costuma sofrer mais com as transformações da vida, já que não consegue enxerga em si a capacidade de sair vitorioso diante do desconhecido. "A autoestima baixa desencadeia pensamentos como "será muito difícil" ou "não vou conseguir". Imediatamente, a pessoa passa a encontrar boas razões para não se aventurar", justifica Heloisa. Como consequência do medo do novo, a pessoa se autoboicota.
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"Desde muito pequeno, sempre gostei de pintar. Minha família é nordestina e cresci em um meio cultural muito forte. Meu pai é engenheiro e, por conta de sua profissão, moramos fora do País. Com oito anos de idade, ganhei meu primeiro concurso na Embaixada do Brasil. A pintura me divertia e nunca planejei: "vou ser artista". Na fase do vestibular, optei por fazer designer gráfico e pude conciliar a arte e o preparo para a profissão, pois o curso exige criatividade, cores e conteúdos. Durante vinte anos, fiquei envolvido com o universo do design e da publicidade. Mas o esquema de agência é muito estressante e sentia que precisava de um tempo. Por quase dez anos, planejei parar com tudo e estudar. Não queria passar "perrengue" financeiro. Quando consegui o equivalente a dois anos de reserva financeira para sustentar meu sonho, fui para Londres fazer um curso de pós-graduação em gravura. Quando retornei dessa viagem, decidi que precisava alugar um espaço para me dedicar ao trabalho autoral. E não podia fazer isso em casa, precisava ter disciplina. Queria investir nisso. Ainda assim, voltei a trabalhar em agência e mantive as duas funções por dez anos. Para investir no sonho, precisava de uma transição gradual. O que eu ganhava com a minha arte, investia em material e guardava. E com a renda de designer eu me mantinha, pagava as contas. Quando comecei a ganhar dinheiro com a minha arte, percebi que podia enfim me dedicar só a este trabalho. Mas, investir em um hobby não é relaxante, é trabalhoso também. E isso exige planejamento. Gostar só não basta, é preciso não conseguir viver sem. Nem sei dizer se a arte é um hobby, pois sempre foi a minha vida". Rogério Fernandes, 43 anos, artista plástico Carol Salgado/Divulgação
Quem não sai da mesmice, não evolui
Perder a oportunidade de viver novas emoções é apenas um dos prejuízos de não encarar as mudanças. "Em geral, quem se desafia descobre que é mais competente do que imaginava", diz Heloisa. "Por outro lado, quando o medo fala mais alto, a pessoa fortalece a ideia que ela já tinha de que não conseguiria e só faz aumentar sua insegurança", pondera.
Para Ferreira-Santos, o crescimento e a transformação pessoal requerem este rompimento com o conhecido. "Hoje em dia, a pessoa que está sempre procurando algo melhor é mais valorizada. A vida moderna exige esse nível de iniciativa. Quem para tem a sensação de que está ficando para trás, já que os outros continuam sempre em frente e numa velocidade incrível", observa ele.
Até os resultados inesperados e desdobramentos ruins ocasionados pela mudança são uma oportunidade de crescimento. Afinal, o erro é uma oportunidade de descobrir fragilidades e aspectos que precisam ser desenvolvidos. "Essas experiências contribuem para o nosso aprimoramento e para o desenvolvimento de uma habilidade importante, a resiliência, que tem a ver com a capacidade de superar obstáculos e resistir bem às pressões em condições adversas", garante a psicóloga Cristiane Moraes Pertusi, doutora em psicologia do desenvolvimento humano pela USP.
Virando o jogo
A vontade de mudar e a análise das consequências dessa mudança devem sempre caminhar juntas. "O importante é saber de que estamos abrindo mão e também que o novo pode ser desconfortável, ao menos no início. Assim, nos lançamos ao desconhecido já mais preparados para enfrentar dificuldades", ensina Ferreira-Santos. "Como o risco faz parte, o ideal é trocar o medo pela cautela, e buscar o mínimo de informação sobre o que há do outro lado", recomenda. Se faltar coragem, vale relembrar desafios do passado encarados com sucesso.
No mais, é preciso paciência para aceitar as limitações que surgirão pelo caminho. "Em vez de estabelecer objetivos altos, é preferível se propor a aprender e a fazer o melhor possível. A atenção deve ser voltada ao próprio desenvolvimento e é preciso evitar comparar-se com outras pessoas", ensina Cristiane.
Ao conseguir passar por todas estas fases e vivenciar a mudança, a recompensa virá na forma de um novo olhar sobre a vida. Quem se arrisca e tenta, passa a sofrer cada vez menos com as instabilidades e com a falta de controle sobre determinadas situações. "Se mudamos e caímos no lugar errado, aprendemos que basta mudar de novo. Às vezes, não dá pra voltar atrás, mas, sem se conformar, é possível seguir em frente e buscar sempre novos desafios", finaliza Ferreira-Santos.
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